Ana e Léo

Antônio Mendes
2 min readFeb 8, 2021

Ana e Léo eram um casal
uma relação complicada
até aí, normal
mas não tinha o que fazer
no peso ela era fissurada
e ele não dizia nada
não tinha mesmo nada a dizer

Não importava o dia
independia
o assunto falado
Léo sempre exigia
seu direito de ficar calado

Já Ana tomava remédio
pra cabeça
e pra barriga
dizia: “Que eu consiga
que eu vença
que uma melhore
e a outra desapareça”

O peso que o peso faz
ela era bonita desde criança
mas sempre se preocupou demais
com o número na balança
perguntava: “Fico gorda nesse vestido?”
pior era o marido
que não lhe dava esperança
ela esperava a resposta parada
Léo não dizia nada
não tinha mesmo nada a dizer

Certo dia
Ana voltara mais cedo do serviço
mas Léo não sabia disso
gemidos vindos do quarto
cheiro de perfume barato
para Ana, não havia mistério
se tratava de adultério

Era cedo ainda
Ana abriu a porta
pegou ele no flagra
a outra mulher era alta e linda
mas isso pouco importa
o pior é que era magra

Ana se acabava em prantos
escolhera o pior esposo
entre outros tantos
a magra, nua, mas descente
em meio ao choro
num movimento ardiloso
colocou seus mantos
seu olhar inocente
e suas botas de couro
então saiu sem decoro
daquele local perigoso
Léo não tentou mentir nem esconder
não disse nada
não tinha mesmo nada a dizer

“Esse foi o estopim
esse é o fim da linha
vou por lhe um fim”
disse ela, pegando uma faca na cozinha
o lençol branco ficou avermelhado
com muita velocidade
estava tudo acabado
feito como dito
sem piedade
e sem um grito

Um crime tão brutal
iria responder no tribunal
pois fizera uma chacina
simples assim
o advogado disse: Assassina
Ana disse: Sim
o juiz disse: Culpada
e Léo não disse nada
não tinha mesmo nada a dizer

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